13 maio, 2003

ENCONTREI-ME


Falei contigo, mas disseste não querer escutar mais nada. Triste dialoguei com a noite e coloquei-lhe mil questões que ficaram esquecidas no tempo... não tive resposta. Cansada de questionar quis saber quem eu era e, puxando de um selim de prata, caminhei oceano abaixo à procura da minha caverna. Nauseada, só a encontrei vinte dias volvidos sobre o início da busca. Sentei-me à lareira daquele espaço quase translúcido e ouvi um profeta falar comigo e de mim.

Devagar, muito sincopadamente, disse-me que eu era naufraga, mas que não havia sucumbido. Era uma guerreira que, para evitar de aniquilar o mundo envolvente me destruíra, e que como mulher, era um cavaleiro andante em busca do El-Dourado. Coloquei, de novo, outras questões. Quereria saber porque me perdera na vida.

A resposta ficou atrás da cortina da minha existência, porque o profeta sorrindo, disse-me que a minha sede não era daqui, que o que eu idealizava não existia e que o mundo justo, correcto e pleno de alegria estava - qual bola de neve - enterrada numa galáxia onde viveria outro Homem. Fechei os olhos e o aguaceiro não parou. Foram feixes de H2O que caídos quase me salgaram a vida e os sentimentos. O ermitão levou todo o seu discurso para o campo hipotético e em consequência foi-me dado concluir, que eu não teria mais espaço onde habitar, que estava mal neste mundo pleno de disforia, porque tudo o que eu, exclusivamente quereria era paz, amor e carinho, um embrulho mesclado de gotas de felicidade. Subi e olhando o mar vi de novo, sol, lua e estrelas. Dei conta de que estava sentada no cimo do oceano e que questionava as águas do mar acerca do que fora eu, e do que seria. Eu havia cansado o profeta e em consequência disso não tive - de novo - aquela resposta. O mar cansara-se e havia posto ponto final às minhas perguntas. Com o corpo enterrado nas vagas, sentia-me finalmente segura, porque eram muitas as sereias que, dando-me a mão me ajudavam a ver o que eu não queria!

Por último, e já sem receio de me magoar, até porque metade de mim estava já fora do mar, olhei a linha do horizonte e vi que, só depois de sair dali, seria deliciosamente feliz, porquanto mudaria de vida.

Pedi asas ao profeta que simpático mas cedeu de imediato. Foi lindo o percurso, porque naquele momento daquele dia simpático, eu voei alto e fui encontrar-te chorando por detrás do oceano que não era o meu. Hoje falo o teu idioma, sou igual a ti e move-me nos ideais que são nossos. Finalmente grito exasperada que TE AMO!


de Luísa Ramos

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