12 agosto, 2003

Recebi este texto por e-mail, achei bastante interessante e compartlho com vocês.

Metedor, por Tristan Taormino

Pistoleira

10 de julho de 2003

Tenho conversado muito sobre felação, atualmente. Durante um encontro
recente, um produtor britânico de TV e cinema me perguntou, "Por que você
acha que "Garganta Profunda" ficou tão popular? Tem a ver com os
boquetes? Você acha que os americanos são obcecados com isso?"
Bem, considerando-se a quantidade de expressões que temos para descrever o
contato oral-peniano, e a freqüência na qual tais frases são usadas, eu
diria que o boquete está no mesmo nível do baseball e da torta de maçã.

Pense na imensa quantidade de referências à felação em filmes e outros
meios. Lembre-se do escândalo sexual com Clinton, que prendeu a atenção da
nação, e que se relacionava a um certo ato de diplomacia por baixo da mesa.
O que me lembra de uma história que uma maquiadora me contou sobre a
entrevista de Monica Lewinsky à repórter Barbara Walters. Ela disse, "Era
uma importante aparição na mídia, e por isso muito cuidado foi tomado com a
aparência de Monica: suas roupas, cabelo, maquiagem. Fiquei chocada ao ver
que os lábios de Monica foram maquiados para parecerem úmidos e brilhantes.
Isso chamou muito a atenção pra eles. Você simplesmente não coloca brilho na
boca de uma mulher conhecida pelo mais famoso boquete do mundo" Ela disse
isso com uma ponta de ironia, mas o que prendeu sua atenção foi bem
representativo do que divertiu muitas línguas - Não a infidelidade ou
engodo, mas o rosto de uma estagiária entre as pernas de seu chefe. Então, o
que é que a felação tem que nos excita tanto?

Tenho uma teoria: O boquete é o derradeiro ato de domínio e submissão
sexual. Esqueça a imobilização, as mordaças e o coito anal - chupar pau é
pura troca de poder. Um boquete perfeito é aquele que corporifica servidão
sexual sem inibições - uma boca (e por extensão, o dono da boca), cujo único
propósito é satisfazer um pênis. Naquele momento, a boca existe apenas para
servir ao cacete que a mantém aberta. O pau é o rei, presidente, deus - o
foco de tudo; coletivamente, lábios, língua e bochechas são servos, súditos,
adoradores. Pense em como adotamos alguns termos para intimidar e depreciar:
"Chupa meu pau" é uma ameaça, "pistoleira" é um comentário mordaz - e ambos
são declarações verbais de dominação.

O "Serviço de Boca" (Blow Job) também tem a ver com serventia sexual, que é
altamente erótica para muita gente. Eu não utilizo a palavra "serventia" em
termos negativos, como na expressão "eu me sinto tão usada", mas como um ato
consensual onde uma pessoa literalmente se utiliza de outra para seu prazer.
Não estou afirmando que a propensão dom/sub seja aberta, declarada, ou que
se esteja ciente dela: Uma mulher pode chegar às cuecas de um homem,
lambendo os lábios, sua mandíbula ligeiramente aberta, mas só porque ela
desconhece o fato de que há uma dinâmica de poder em jogo não significa que
eles estejam deixando de estimular o desejo e a fantasia.

Por falar em fantasia, nosso gosto e palpitação são um bom indicador do que
está rolando dentro de nossas pequenas mentes pervertidas, e tudo não
termina em "Garganta Profunda". O passivo e o ativo oral são a principal
mercadoria na maioria dos panoramas sexuais, e um próspero subgênero por si
só, com séries como "Shut Up and Blow Me" (Cala a Boca e me Chupa) e
"American Bukkake" (Biscoito de Macho Americano) que escorregam para as
fendas escuras e quentes dos videocassetes por todos os EUA. A estrela
Stephanie Swift é uma perfeita pistoleira, e ela abraça esses papéis feitos
sob-medida com desembaraço. Ela se ajoelha, seus braços naturalmente
pendendo para trás, e deliciosamente se metamorfoseia de mulher em "orifício
rosa em forma de O" - não de uma forma degradante, como se estivesse sendo
reduzida a apenas uma parte anatômica, mas certamente como a personificação
da servidão oral. Quero dizer, se você vai chupar alguém e seguir este
caminho, por que não seguí-lo até o fim?

Outro dia, durante uma entrevista com uma conhecia estrela de filmes pornôs
(vamos chamá-la de Loirinha), o assunto mudou para "fellatio", e ela me
contou esta anedota: "Eu adoro chupar pistola; vou fundo, e acho que os
homens gostam quando percebem que você também está se divertindo. Mas no set
de filmagem, eu comecei a fazer um boquete neste cara, e ele disse, 'Não
chupe meu pau como se você estivesse gostando. Chupe como uma atriz pornô.'
Fiquei totalmente confusa, mas era óbvio que o que eu estava fazendo não o
estava excitando. O que você acha que ele queria dizer com aquilo?"
Este caso da vida real (bem, tão real quanto podem ser as história da
"pornoterra") ilustra lindamente minha filosofia fálica. Loirinha gosta de
chupar pistola, e isto fica evidente: Ela fica entusiasmada, e seus olhos
lampejam, enquanto seus lábios se umedecem com saliva. Mas seu par queria
uma proposta totalmente diferente, talvez uma com o lábio superior tenso,
onde Loirinha pareça um pouco desconfortável, tornando óbvio que ela está
fazendo um grande esforço, ou parecendo levemente violada pela situação. Uma
onde ela não pareça estar curtindo adoidado, mas está fazendo isso por ele,
e somente por ele. O desejo dela de agradar com certeza estava lá, mas ela
não o expressou de um modo que o excitasse. Ele não sabia articular o modo
como queria que ela agisse; apenas que ela não estava agindo do modo certo.
E o povo ainda diz que os homens não são meticulosos com relação aos
boquetes que recebem!

O estilo de boquete de Loirinha demonstra como a posição de poder entre
chupador/chupado pode ser intercambiável. Loirinha não assume o papel de
submissa, mas o papel de fornecedora de prazer. Isso faz sentido: Quando
você tem o membro de alguém na sua boca, você tem o poder de criar um final
feliz ou um homem miserável (lembre-se, você tem dentes!) dependendo do modo
como joga. Os homens são reduzidos a meninos chorosos quando estão descendo
pela sua goela abaixo, e ela trabalha esse ponto de vista.
O prazer dela é palpável, assim como seu controle da situação: Ela é quem
decide quão fundo, quão selvagem, quão doce e quanto tempo a situação vai
durar. Sua boca não é um receptáculo passivo, mas um aspirador de prazer que
ela pode desligar a qualquer momento. Quando Loirinha chupa um cara, ela
está apresentando um espetáculo: Sua língua é um instrumento de prazer e
tortura, e as "jóias da família" dele (isto é, seus genitais) estão á mercê
de sua boca. Ela está curtindo tanto quanto ele, ou talvez ainda mais. A
boca dela é que está ocupada, mas ele é que é o passivo. Quando se trata de
boquete, a troca de poder sempre está presente, não importa de nós temos
clara ciência da dinâmica ou a deixamos cozinhando no subtexto.

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